segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Viver e saborear a vida, na fé e na esperança


Estamos de volta depois de algum tempo de férias e de silêncio tão necessários “ para um verdadeiro tempo de paz”. (como nos dizia o P. José Tolentino Mendonça no seu poema).
Férias, que não são ausência de compromissos, de vida familiar e comunitária, nem de Deus…, mas sim tempo de paragem para retemperar forças e continuar…
Muitas vezes é em tempo de férias que “descobrimos alguns espaços privilegiados de Encontro com o Senhor e, com os que estando próximos, nos passam despercebidos no dia-a-dia. Convite também ao encontrar-se cada um consigo próprio e com a natureza, que nos oferece tanta beleza e nos convida à paz interior, que nos fortalece e ajuda a ser pessoas de esperança, de alegria e com gosto de “viver e saborear a vida” e não apenas passar pela vida ou deixar que ela passe por nós ou ao nosso lado!

Agora, e depois do repouso, que de algum modo pudemos ter, preparemo-nos para recomeçar as nossas tarefas do Tempo Comum.
No Evangelho de ontem, Domingo XXV do tempo comum - temos o convite a renunciar à “sabedoria do mundo” escolhendo a “sabedoria de Deus”, que nos conduzirá à felicidade, à paz e ao serviço.
Ao dizer aos seus discípulos: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos.» (Mc. 9, 35), Jesus recorda-nos que a verdadeira grandeza está no serviço desinteressado aos irmãos partilhando, cada um, os dons que lhe são concedidos.
Que o desejo de “viver para servir”, seja a força que nos move ao iniciarmos o trabalho neste novo ano pastoral.
Alice Matos
(Notas, sobre o XXV Dom. Comum, tiradas da homilia do P. Herminio Vitorino S.J.)

Deixamos para reflexão, um artigo do Padre José Augusto Sousa S.J., que muito sabiamente vai dando o seu contributo ao nosso blog, sempre com muito carinho e oportunidade.

PARAR E PENSAR: O MELHOR TEMPO DE ANTENA

Todos necessitamos de parar o relógio do tempo para não nos precipitarmos no trabalho, outras ocupações ou tomadas de decisão nas urnas, sem nos reservarmos uns instantes para saborearmos o sol que nasce cada manhã. No amanhecer do quotidiano, tenho o direito a existir só, a existir totalmente e exclusivamente para mim e pensar e sentir-me, assim, refrescado, com o sabor original da existência que me foi e continua a ser dada por um OUTRO que me ultrapassa, mas que caminha comigo, porque me ama.

Parar e Pensar é o melhor tempo de antena! Esse tempo faz-me existir, vencendo um outro tempo que nos fustiga, que nos tira o sossego e não nos deixa respirar…, em existir vencendo o tempo cronometrado pelo nosso relógio de pulso, de bolso, de parede. Este tempo de antena faz-nos existir, vencendo ainda um tempo mais subtil, uma espécie de balouço imperceptível, mas impiedoso que nos empurra dum lado para o outro, duma ocupação para outra…, e, em tempo de eleições, dum projecto político para o outro, num rodopio sem fim, para se cumprirem programas de rua, visitas de casa em casa, para nos fazerem entrar pelos olhos dentro, uma mensagem que muitos desejam ver assimilada mas não contrariada.

Parar e Pensar é o melhor tempo de antena para não entrarmos numa corrida sem fim, com um ritmo tão acelerado que nos faz perder o sentido da existência e cantar a identidade a que temos direito…para encontramos momentos em que no sentimos unificados, em que nos sentimos nós próprios, sem medo de tomarmos decisões e em que sentimos dar o melhor da nossa vida a favor dos outros, quando depositamos o nosso voto na urna. Somente assim, nos sentiremos nós mesmos, a pensar por nós próprios, explorando todos os recursos da nossa personalidade: “torna-te aquilo que tu és”..., dizia Nietzsche e Cícero, escritor latino, louvava a cultura da alma: “ cultura animi”. Quanto mais nos tornarmos nós mesmos, mais seremos também para os outros.

Parar e Pensar é o melhor tempo de antena para não nos deixarmos embalar por qualquer ideologia. Os cristãos da Igreja Primitiva enfrentaram o mundo violento do Império Romano. Propuseram-se a transformação desse mundo esclavagista, mas não começaram o seu trabalho, apelando à fome das pessoas nem aos desejos de acabar com os opressores romanos. Apelaram sim à luz da consciência, uma luz muito pequenina mas iluminada pela grande Luz duma Palavra Transcendente e Incarnada. Essa Palavra era, para os primeiros cristãos, uma Boa Nova, que os fazia ver as injustiças, mas que não excluía ninguém da tarefa da transformação do mundo concreto em que viviam, o mundo do Império Romano. Pelo contrário, criava a comunhão e ajudava as pessoas a verem onde estava o bem e onde estava o mal. Toda a ideologia que se quer tornar independente desta Palavra Transcendente faz do mundo, um mundo banhado na “irracionalidade”, porque lhe falta o “Logos”. Essa ideologia, sem a “racionalidade do “Logos”, coloca-se em lugar de Deus. Em vez do Deus verdadeiro, povoa-se o imaginário de outros deuses, de ídolos, que são avaros da vida e hostis ao homem. A avareza cria as hostilidades e as guerras. Esta Palavra Transcendente ajuda a abrir a nossa porta interior e nos recorda o nosso destino essencial: somos feitos para ser e para amar. Somente deste maneira, a nossa entrega ao serviço público, será transparente e não uma frágil filantropia.

Certamente que tudo o que ouvimos nestes dias nos tempos de antena são um bem da democracia, uma globalização de ideias, na linguagem do nosso tempo. Mas PARAR E PENSAR, o melhor tempo de antena recorda-nos que os frutos da globalização são para a participação de todos e não para favorecer os privilégios de poucos. Não se pode ficar na defesa duma ideologia como ideologia, mas na defesa duma ideia que seja o motor de transformação duma sociedade.

Parar e Pensar é o melhor tempo de antena para pensarmos que os sonhos que se vendem se transformem em realidade. E todos nós queremos que a realidade verdadeira seja a paisagem dum Portugal mais humano e mais justo, dum Portugal fiel às suas tradições. Se os outros são assim, não significa que temos de ser como eles. Vivemos, quando não perdemos a esperança desse Portugal melhor! E ela está, onde os projectos não são os projectos dum indivíduo ou grupos de indivíduos, mas duma colectividade.

P. José Augusto Alves de Sousa S. J. (Setembro 2009)