domingo, 13 de abril de 2014

‘Eis o teu Rei, que vem ao teu encontro’.

Giotto

«‘Eis o teu Rei, que vem ao teu encontro’.» (Mt 21, 5)
   
As portas de Jerusalém abrem-se para Jesus. Há ramos e cantos. A multidão, como sempre, segue a marcha e faz a festa. Finalmente – pensarão muitos –, o Mestre será reconhecido e aclamado por todos. Chegou a hora decisiva, o momento do grande encontro. É tempo de paixão.
Na realidade, ainda que rodeado por tantos, Jesus entra só. Nem os discípulos estão com ele.  Mas quem poderia estar com ele? É duro de aceitar que, para ganhar a vida, se há-de perdê-la. Como comungar os sentimentos de quem assume a condição mais baixa de servo, pretendendo revelar, assim, toda a beleza de Deus? Como reconhecer o Messias em quem aceita humilhar-se até à vergonha da morte numa cruz? Não foi, Jesus, profeta poderoso em palavras e obras? Como poderá, então, aceitar calar-se como uma ovelha muda, levada ao matadouro?
Em breve, todos os hossanas cessarão. A aclamação dará lugar à queixa e as palmas à indiferença. O verde dos ramos ficará rubro, cor de sangue. O Rei será revestido de nudez. Terá espinhos por coroa e feridas por jóias. Na cruz terá a sua glória. Será exaltado pela humilhação.
Quem reconhecerá no servo desprezado o mais belo dos homens? Quem ficará aqui, assim, em tamanha confusão, em tão grande silêncio? Ficarão os pobres e os apaixonados que se deixarem enriquecer por tão grande amor. E ficará o discípulo que aceitar nascer de novo. Reconhecido, ficará pronto a ir até aonde for o seu Mestre.
Que esta Quaresma nos conduza a Jerusalém. A cidade santa espera que os nossos passos sigam firmes na senda d’Aquele que já fez o mesmo caminho.
Arrisquemos nesse seguimento. Mesmo que a luz teime em esmorecer dentro de nós. Mesmo que nos impeçam de caminhar atrás do Mestre. A cidade santa espera por nós.
Não queiramos voltar as costas à cruz que a cidade nos entrega. Sigamos atrás desse desejo de vida que nenhuma dor será capaz de enterrar.

P. José Frazão, sj (adaptação)

Nenhum comentário: