sábado, 11 de outubro de 2014

28º DOMINGO: CONVITE PARA A REFEIÇÃO DE NÚPCIAS


Reflexão, a partir das leituras do 28º Domingo: Isaías 25, 6-10; Filipenses 12-14.19-20; Mateus 22,1-14

DEUS É UM DEUS DE TODOS: “Sobre este monte, o Senhor do Universo há-de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos e vinhos deliciosos”... Este texto de Isaías lido neste Domingo repete, por três vezes, a alusão ao monte. Isaías vivia em Jerusalém e esta alusão ao monte, refere-se à colina da cidade de Jerusalém onde se ergue o Templo do Senhor. Este Templo será a meta da peregrinação de todos os povos. Isaías anuncia aqui, neste monte, a salvação que se concretizará na aniquilação da morte, no enxugar das lágrimas pelo Senhor, no retirar do opróbrio que pesa sobre o povo. O povo recobrará alegria, porque o véu de luto que pesava sobre ele foi retirado. E o Profeta anuncia, sobretudo, a celebração dum banquete, para o qual, são convidados todos os povos da terra... Neste banquete, conviverão todos os povos e já não há inimigos como, muitas vezes, pensou Israel, porque Deus é o Deus de todos e a sua misericórdia se estende por toda a terra. A salvação de Deus traz consigo a reconciliação universal e, por isso, há motivos mais que suficientes para celebrar a festa.

AS NÚPCIAS DO FILHO - O CORDEIRO DE DEUS, BANQUETE FINAL COMO CONCLUSÃO DE TODA A HISTÓRIA: O Evangelho de Mateus, na Parábola que acabamos de ouvir, refere-se à Celebração do Banquete em Isaías que é a Profecia da Celebração do Banquete das Núpcias do Filho, o Banquete Final, como conclusão de toda a História. Nela, o evangelista Mateus, com o estilo que lhe é próprio, retoma os termos de Isaías para nos descrever a sumptuosidade duma refeição que podemos chamar escatológica, isto é, a refeição dos últimos tempos que celebra a última intervenção de Deus na história dos homens. Tudo está preparado, diz o Evangelho que nos confirma que as núpcias são, para agora, para os novos tempos, os tempos que começaram com Jesus Cristo. O tema das núpcias do Filho de Deus com a humanidade está presente em todo o Novo Testamento até ao Apocalipse 19, 6-9, onde se apresenta as núpcias do Cordeiro como conclusão de toda a história, a refeição do fim dos tempos, imagem da Vida Eterna. (não a refeição do fim do mundo, como, por vezes, se tem a tentação de dizer). Isaías e o Evangelho vêem nestas núpcias um fim feliz, embora o percurso pela história tenha sido difícil. Um véu de luto que envolvia todos os povos foi retirado, mas mesmo assim, os homens continuam a recusar o convite. Jesus não impõe nada à força, não pressiona ninguém. Anuncia a Boa Notícia de Deus, desperta a confiança no Pai e acende nos corações a esperança. Mas uns e outros e, também nós, continuamos contentes com o nosso bem - estar e surdos ao que não sejam os nossos interesses imediatos. Parece até que não necessitamos de Deus! Alguns continuamos a ir para campo (entende-se o que isto quer dizer), outros entregamo-nos aos negócios e há até quem se atreve e excluir ou até a matar os servos que vieram para convidar para o banquete. As reacções dos convidados faz-nos lembrar a reacção dos vinhateiros homicidas, de que falamos no Domingo passado, embora aqui encontremos dois tipos de reacções. Há aqueles que se entregam à rotina do dia-a-dia e não querem, simplesmente, ouvir o convite. Estão prisioneiros do seu mundo e dos seus negócios. Um pouco como sucedia na Parábola do Semeador (Mt.13,3-23) E há aqueles que recebem a semente nos espinhos, um coração prisioneiro das paixões, da preocupação do mundo e da sedução das riquezas. Todos estes convidados não têm em conta o convite e vão cada qual para os seus afazeres. No Domingo passado, vimos que vinha era dada a outros vinhateiros e aqui, na parábola deste Domingo, a sala da refeição das núpcias se enche de novos convivas. Não importa quem são estes novos convivas. São os conhecidos e os desconhecidos, encontrados ao azar, nas encruzilhadas dos caminhos, são os estrangeiros... No evangelho de Lucas, são os pobres, os estropiados, os cegos, os coxos (Lc.14,21).

O HÁBITO DAS NÚPCIAS. A NUDEZ DO CONVIDADO (SEM DEUS NA VIDA), A NUDEZ DA CRUZ E A REVELAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO. Uma das coisas estranhas é o que nos diz a parábola acerca daquele homem que entrou sem o traje de núpcias. Primeiramente, uma possível interpretação bíblica do sucedido. A nudez aparece no Génesis 3. Adão e Eva pecaram e sentem-se nus, quer dizer, sem Deus e, por conseguinte, desarmados e sem defesa. Mas noutra passagem da Bíblia, encontramos sobre a cruz um homem nu, desnudado, de quem os seus algozes partilham os seus vestidos. A nudez é assim o hábito das Núpcias que leva Cristo sobre o leito das núpcias com a humanidade. Talvez seja deste modo que devemos interpretar a questão do homem que se apresentou sem a veste nupcial. Ele devia apresentar-se desarmado, despojado para aceder à unidade com Deus! Depois desta interpretação bíblica, não se pense, pois, nesta cena, numa questão meramente moral: o homem não era digno, porque não estava em estado de graça e de rectidão moral. Contudo, é legítimo perguntar: somos nós entregues a um Deus castigador que não nos perdoa e expulsa-nos do banquete? Há bastantes textos no Antigo Testamento e o mesmo se diga no Novo Testamento que nos poderiam levar a supor isso. Mas Jesus apenas nos anuncia aquilo que deveria acontecer, segundo o curso normal das coisas, se nós permanecêssemos sob o regime da Lei do Antigo Testamento. Dizemos, além disso que tanto os vinhateiros como os convidados se excluíram eles próprios do lugar da vida e donde receberiam a vida. Mas mais tarde, na revelação do Novo Testamento aprendemos que mesmo os assassinos terão parte na refeição das núpcias. Para compreendermos isto, é necessário entender a linguagem da cruz, ver Jesus crucificado e ver como ele perdoa aos seus algozes aos assassinos. No fim de contas, é a cruz que é o leito das núpcias de Cristo com a humanidade. É aí que entregará o seu corpo e o seu sangue para se tornar connosco uma só carne. Aí, toma no nosso pecado, este pecado que o mata, e rouba a nosso felicidade. Nós somos com efeito autores e vítimas da nossa desgraça. Mas, as coisas não ficaram por aí, porque a núpcias são a fonte de vida e que a ressurreição fará de nós filhos de Deus animados duma vida nova. Nos eis desposados e gerados neste dia das Núpcias do Cordeiro. O nosso Evangelho de hoje enuncia tudo isto em termos velados, quando o rei prescreve aos servos de fazer entrar na sala da festa tanto os bons como os maus.
NOTA. A interpretação desta parábola lança-nos nas mãos de Deus. Ele não desiste de convidar-nos para o Banquete. Quem aceita o seu convite? Quem o anuncia? Quem o escuta? Que Evangelho anunciamos? Alguns acentos doutrinais ou morais ou determinadas opções ideológicas? Ou uma vida, a vida de Deus revelada em Jesus Cristo? E como atitude: o importante é reconhecermo-nos humildes pecadores e sempre nos julgarmos necessitados de perdão. Mas não dizer apenas: Deus perdoa-me, logo continuo a pecar, ou então: não mato nem roubo e abandono sistematicamente o Sacramento da Penitência! Será mesmo assim?

P. José Augusto Alves de Sousa, SJ 

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