domingo, 7 de dezembro de 2014

2º DOMINGO DO ADVENTO


REFLEXÃO SOBRE OS TEXTOS: IS.40,1-5.9-11, 2PED.3,8-14, MC.1,1-8

O Advento é, para nós, cristãos, um tempo forte, durante o qual, não somente em particular, mas em comunidade, se espera o Senhor na fé e não na visão, como diz S. Paulo na Segunda Carta aos Coríntios 4,18. Esperamos o Reino, convictos de que, caminhando na Fé, ele está ao nosso alcance. Não experimentamos ainda a salvação como uma vida que não é mais ameaçada pela morte, pela doença, pelas lágrimas, pelo pecado... Há a salvação trazida por Cristo que nós conhecemos na remissão dos nossos pecados, mas a salvação plena, a salvação de todos os homens e de todo o universo ainda não chegou à plenitude, e por isso, o Advento será sempre a espera do “dia do Senhor” como pensavam os Judeus, o “dia da libertação”, o “dia do Messias”. O Advento leva-nos a esperar o Senhor no fim dos tempos. Nestes dias do Advento, não nos comportemos como se Deus fosse alguém que está para trás de nós, como se nós não encontrássemos Deus senão no Menino de Belém. Mas perguntemos, mais uma vez, neste Advento: Sabemos buscar a Deus no nosso presente e futuro, como sentinelas impacientes que vislumbram, na aurora, o Sol nascente, sentindo na coração a urgência da sua vinda? Deixamo-nos interpelar pelo grito do Padre Theilhard de Chardin: Cristãos, continuamos empenhados em alimentar sempre viva na terra, a chama, sempre vivo o desejo da vinda de Deus às nossas vidas?
OS DOIS ARAUTOS DO ADVENTO:    ISAÍAS E JOÃO BAPTISTA: A primeira leitura e o Evangelho utilizam a imagem duma estrada que evoca a longa marcha de Israel em direcção à Terra Prometida, ao repouso de Deus. Para o Senhor que nos ama nada é impossível. E Deus quer assim incutir esta confiança aos exilados da Babilónia destroçados por se verem privados da sua terra e, sobretudo, do seu Templo, onde ofereciam os sacrifícios e os holocaustos e onde dirigiam as suas orações a Deus. O Profeta que traz esta Boa Notícia, o PRIMEIRO ARAUTO do Advento é o PROFETA ISAÍAS que grita aos exilados de Babilónia: “abri na estepe um caminho para o nosso Deus” e o oráculo deste arauto começa com as palavras de Deus.”Consolai, consolai o meu povo”. Em todos os que sofreram, durante anos, o jugo da escravidão, a humilhação e o exílio, desponta um raio de esperança, neste anúncio do regresso à Terra de Israel. Esta voz é a voz de Deus que se identifica com o seu povo, porque, com ele, viveu também o exílio e, agora, se propõe Ele mesmo ir á frente da caravana a cominho da Terra Prometida. É esta, também, a imagem de confiança que se nos oferece a nós, na caminhada para a terra da salvação na confiança de que venceremos todos os obstáculos porque Deus está connosco, Temos que abrir uma clareira no deserto e rasgar uma estrada nas nossas vidas, uma estrada para Deus. Regressa a esperança e o povo se recordará sempre qual é a sua vocação, a fé como resposta à fidelidade de Deus que nunca o abandona. No Evangelho de S. Marcos, encontramos o SEGUNDO ARAUTO do Advento, João Baptista que, como o antigo arauto, também ele diz: “preparai os caminhos do Senhor e endireitai as suas veredas”. Mas o segundo arauto chama á conversão, isto é, à mudança de mentalidade e de costumes. Não basta nesta conversão dar um salto quantitativo, fazer esta ou aquele penitência, muito válida se feita com alegria interior, pois torna a vida uma verdadeira e nova criação da pessoa. Este segundo arauto chega a dizer que devemos fazer uma declaração pública dos nossos erros para nos reformarmos a nós mesmos e concorrermos, deste modo, para uma sociedade mais justa e fraterna. Não podemos ficar em palavras ou em boas intenções, mas operar uma reviravolta na nossa vida para podermos também operar uma reviravolta na sociedade. Este segundo arauto lembra-nos a nossa vocação e desperta-nos para estarmos vigilantes como dizíamos no primeiro domingo do Advento. E, em terceiro lugar, este arauto aviva a renovação da memória, lembrando o nosso baptismo na água e no Espírito. Foi assim que um dia o povo com Josué, atravessando o Jordão chegou à terra prometida. É para aí que caminhamos neste Natal e o segundo arauto não deixa de apontar esse personagem. Depois de João, há-de vir Outro. João é uma voz que clama no deserto, mas não a Palavra. Ele nem sequer é digno de lhe desatar as sandálias. E o seu baptismo será um baptismo no Espírito, o baptismo definitivo e purificador, porque sobre o baptizado descerá o vento Santo, sopro de Vida, o Espírito Santo.
A MONTANHA A NIVELAR, CONDIÇÃO PARA ACOLHERMOS A MENSAGEM DE ISAÍAS E JOÃO BAPTISTA: Quantas dificuldades temos para nivelar um pedaço de terra e nela plantar os nossos haveres. Hoje, tudo é mais fácil com os tractores e outros instrumentos agrícolas. A montanha de que fala Isaías é símbolo das nossas dificuldades que julgamos, às vezes, intransponíveis. A Bíblia fala muitas vezes do orgulho, símbolo dos montes elevados que desafiam as empresas dos homens e dos lugares altos onde os homens celebram os seus cultos e se entregam a devaneios idolátricos. As ravinas a preencher têm algo a ver com os nossos túmulos, com o vazio dos nossos túmulos, isto é, das dificuldades em que nos atolamos sem esperança de saída. São os naufrágios que cavamos! Com a vinda de Cristo, o homem renasce e a Escritura anuncia-nos o último inimigo a abater, a morte (1Cor,15,26). A conversão que nos é exigida é a conversão à vida. Mesmo que a terceira leitura, nos fale de reconhecer os nossos pecados, não pensemos numa conversão moral, porque esta não é senão a consequência da nossa volta à vida. E aquilo a que chamamos pecado, não se define, em primeiro lugar, como uma contravenção a uma lei, mas como aliança com a morte. Deus ao vir a nós em Jesus Cristo neste Natal não nos trará outra coisa senão a vida!..
CONCLUINDO. Fixemo-nos nas ravinas cheias e nas montanhas niveladas da primeira leitura. Isto é uma imagem da nossa conversão. Não deixemos neste Natal que se aproxima de encher os vales profundos nas nossas vidas caracterizados pelas separações tão dolorosas que apagam todos os nossos sorrisos e nos impossibilitam de apertos de mão pela distância que cavamos.

A liturgia de hoje nos convida à esperança, a crer que, no meio das dificuldades da vida, das perseguições que sofrem os cristãos e que no meio das realidades mais duras, é possível um futuro melhor, porque o Senhor é fiel para com aqueles que «assumem” os valores da verdade, da justiça, da fraternidade. Todas estas esperanças a que nos convidam as leituras de hoje, as lemos com Jesus, sobretudo neste tempo de espera alegra do Natal. Espera de um novo mundo, uma utopia certamente, mas a utopia vivida em Deus que gera uma esperança sempre jovem e mais bela. Que esta esperança não se apague no meio da crise, das dificuldades do dia-a-dia para podermos levar uma vida digna e fiel. Isto é Natal, isto é Jesus Cristo no meio de nós. E não é Ele o EMANUEL?

       Padre José Augusto Alves de Sousa S.J.


Presépio de Machado de Castro na Basílica da Estrela - Lisboa


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